domingo, 6 de fevereiro de 2011

Labirinto de espelhos



Todo mundo vive procurando alguém que caiba no seu sonho. A personificação ideal do ser amado.
As pessoas buscam exaustivamente aquilo que existe em suas mentes e corações, sem se darem conta da incoerência desta empreitada.
O ser idealizado se auto-define pelo nome. E é isso mesmo, ele não existe no mundo em que vivemos. Simplesmente porque não é possível que isso ocorra. Não quero parecer presunçosa, mas geralmente a pessoa residente em nossos sonhos é algo como nós mesmos numa versão master power plus. Ou seja, pura egotrip da nossa parte. E nada razoável, vamo combinar.
Para amar, antes de tudo temos de estar dispostos a nos chocar. A deixar que o outro nos surpreenda, absorvendo isso de maneira positiva, aprendendo com a pessoa, se possível. Porque o amor de verdade é isso, é a gente se colocar em confronto consigo mesmo e achar o maior barato, e não uma masturbação. Amar não é escolher o espelho de corpo inteiro perfeito pro closet, é aceitar que a diferença do outro sempre vai nos acrescentar mais do que nossa vaidade poderia supor.
Claro que nem sempre vai ser bom. Mas ainda assim, é válido. Sem impasses e discussões, não haveria termômetros para o amor. Seríamos vacas holandesas pastando serenas, longe dessa aventura que faz a vida num corpo humano valer tanto a pena. O defeito que você enxerga na pessoa pode ser o que vai te indicar o quanto esta dita cuja é essencial em sua vida. Nada de estranho, nós é que somos seres incongruentes por natureza e precisamos desses artifícios para nos sentirmos vivos.
Por isso é tão importante se deixar um pouquinho de lado, no momento da busca pelo seu esquenta-pés das noites frias. Até porque, vamo falar francamente, a gente nunca se apaixona pelo que já previa! Materializado o ser sublime que ruleia em nossas cabecinhas birutas, e correríamos léguas de alguém tão óbvio.
A gente se apaixona é pelo que não sabe dizer. Quanto menos soubermos exprimir, mais envolvido estaremos. O desconhecido coloca nossa utopia no chinelo.
É aquele olhar que você não decifra, a sensação nova que nunca vai poder definir, os trejeitos únicos de alguém que, uma vez tocado por seus olhos, jamais se perderá na multidão. São a suprema fraqueza e a ignorância nos fazendo sentir enormes. É a felicidade concentrada num frasco de procendêcia duvidosa, que a gente toma, se vicia e não quer largar nunca mais.
Uma parceria real, legítima e satisfatória não poderia ter graça se fosse diferente. As pessoas são mesmo difíceis, mesquinhas, orgulhosas e mentirosas, mas são poucas as inaptas a dar e receber tanto amor quanto for possível.
O certo é que, num momento qualquer, uns olhos imprevistos irão brilhar para nós e o(a) dono(a) deles possuirá uma voz que atingirá mais fundo que de costume. Aí então receberemos um sinal para suspender a busca. E saberemos que o sabor da descoberta é muito melhor que o da certeza.
Quando, não sei. Mas o local onde isto ocorrerá eu posso confiar a você. Será na saída do labirinto de espelhos.

Um comentário:

it's a small world after all disse...

retribuindo a visita descubro textos deliciosos!
Parabéns!
o homenagem a sua irma, parecia que vc estava falando comigo... hehehe :o)
arranjas-te mais uma seguidora!
beijos