segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Poema aos Olhos Daquele Menino



Os olhos daquele menino
Têm algo que é triste.
São dois bagos negros
Que bóiam no infinito.
São duas ônix perdidas
Na clareza pura
Daquele olhar tão bonito.

Os olhos daquele menino
Têm algo que é profundo...
Como se o tempo e as dimensões
Precipitassem em si mesmos
A desvalia dum amor perdido
E grandeza de todo amor do mundo.

E eu os sinto partindo e voltando
Ao porto da minha mente,
Como barquinhos cambaleantes,
Indo e vindo em focos lúcidos
Cada vez mais permanentes.

Aquele menino tem olhos de entardecer,
Olhos de verso triste
E de prosa descontinuada...
E tem ollhos de mistério,
Daqueles que dizem tudo em entrelinhas,
Mas fora delas não dizem nada.

E ele às vezes tem olhos de noite,
De lobo peregrino.
Olhos muito serenos, um tanto famintos,
E tão senhores de si,
Que se eu desconhecesse de quem são de fato
Jamais diria serem daquele menino.

Os olhos daquele menino
Têm algo que não se basta com nada.
E assim, tão sem se bastarem,
Destroem alegrias almejadas,
Pisam na paz conquistada,
Distorcem qualquer razão,
Brincam de sentir emoção,
E voltam-se
Tristes, serenos, amaros, profundos,
Aos movimentos dedilhados
Nas cordas daquele violão.

Aqueles olhos possuem
Algo que só existe
A sete alturas do céu
E a sete palmos da terra.

E desse luzir tão estranho
Procuro extrair poesia,
Embora haja em mim
Muito mais forte
Apenas o desejo e a sorte
De vê-lo iluminar só a mim, um dia.

Os olhos daquele menino desejo beijar.
Cuidadosamente acariciá-los fechados...
As pálpebras feito duas conchas cintilantes
Expostas à luz do luar.

E então,
Os olhos daquele menino
Têm algo que nostalgia...
E são lindos, e tão meigos,
Como estrelas matutinas
Enfeitando o céu do Sol.

Mas não são meus,
Tampouco de alguém.
E eu aqui,
Tonta, boba, magnetizada,
Me desfaço dentro em mim,
Tentando desvendar aquele olhar
E todas as suas metáforas,
E antíteses,
E sinestesias...

Talvez eu devesse apenas descrever
O quão pequenina continuaria a ser,
Se de repente,
Em meu destino,
Tão bruscos e belos,
Não houvessem aparecido
Os olhos daquele menino.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Legado



Nas ruas onde habitas
Não sobra nada
Tampouco a vida.
Não fica nada, apenas a ira
Amaciada e gasta
Dos teus sonhos mortos.
Não levas nada
Abandonas tudo pelo caminho.
Nem sequer lembranças
Guardarás de recordação.
Fica apenas o peito doído e seco,
Apenas a inglória e a escassa estória,
Somente o peso dum vazio sem cor nem memória,
Somente o teu legado de nãos.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Tua Ausência



A tua ausência
Ronda os espaços
Onde habito,
Como um anjo da dor
A sugar-me a vida.

E ela olha-me
De espreita.
Olha-me com os olhos negros
Me cegando a alma,
Me secando o ventre.

Roendo as cordas
Do tempo,
Ela segue muda
Me deixando surda
De tanto silêncio.

A tua ausência plena
Páira inerte
Sobre minha cabeça,
E fingindo pena de mim
Diz que existe
Pra que eu te esqueça.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Sobre Letras e Quedas




A folha em branco é meu espelho.
Estou aqui, tão pálida quanto crua,

Aguardando ser escrita...

Risco-me a folha
tentando inserir-me o conteúdo
Espalho sobre o papel os relatos do meu interior


[sem escrever não vivo
permaneço, mas não existo]

A folha caindo da árvore é meu espelho.
Quando é outono dentro de mim
também despenco
dos princípios que me agarram
e da moral que me sustenta

[Tem momentos em que me atirar ao vento
é ato de respeito
à minha própria natureza...]

Caio... linda e elegantemente
Pouso de borboleta
Mergulho no leito do solo

A lagarta, lá embaixo
me aguarda com fome
E eu só queria um colo!

domingo, 5 de outubro de 2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Jogada



[você tentando me ensinar a jogar xadrez,

e eu louca pra levar um xeque-mate.

não sou muito fã de jogos,

mas adoro comemorar com o vencedor.]

sábado, 2 de agosto de 2008

Imagem: Google


olho por cima, por baixo, tá tudo errado, o certo é pelo meio.
foco num ponto qualquer de encontro, o bom é o oposto, o que não encosta, o bom é o outro.
vejo de lado, de banda, do avesso, de ponta a cabeça...
eu não mereço, só pode ser isso. ou desconheço.
ponto de vista, a tua razão, a de qualquer um, a de alguém.
eu não encontro argumento que me convença a ser igual a ninguém.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A Falta e a Chuva


O tempo ia escorrendo pela janela. Dava pra escutar o som da chuva com o tato e o olfato. De dentro do quarto tudo parecia tão pequeno que ela se esforçava para fazer render o ar.
Eram os beijos dele que faltavam ali. A falta deles roubava o oxigênio ao redor. E não havia nenhuma maneira de se concentrar, de conseguir se transportar de volta àquele colo. A ausência daquele homem triturava sua carne, e ela sentia como se escondesse um multiprocessador ligado no estômago. Ninguém conseguiria se concentrar sentindo tanta dor.
Aquelas mãos haviam viciado sua pele, e ela queria que o toque indescritível dele funcionasse também na distância, como a chuva que caia e que ela sentia com pelo menos dois sentidos a mais que o necessário.
É que ele possuía uma fluidez que lhe havia desandado as bases, uma coisa que anulava nela a mínima chance de pensar em reagir. Era algo que a tomava por dentro e por fora, rica e inebriante substância que agora corria em suas veias, que entorpecia quando ele estava por perto e enlouquecia quando ele partia.
E era tudo tão simples, intenso, profundo, bonito e dolorido... Tão mágico e tão perigoso...
Era a presença e a permanência dele, mesmo depois de ir-se.
Era aquilo que ela desejava, com todas as forças, quase em súplica, quase a gritar, mas sabia não ser sem consequências, e nem por isso desejava menos.
Aquele homem, a maneira incomparável dele de existir tão lindamente, irredutivelmente perfeito e tão superior a ela, que ali estava com frio e em vazia solidão.
Mas ela sabia. E olhava pra fora, para o sol que ia tímidamente alongando os raios por entre as nuvens ainda carregadas... E sentindo o cheiro terroso que se dissipava no ar que lhe restava ela lembrava, não sem tristeza, que toda dor provocada por uma paixão era assim... Forte, intensa, destruidora, insana e breve, como a
chuva de um verão.


Trouxe muita bagagem comigo.
Será longa a viagem que farei
Para bem longe do meu umbigo.

Eco


para viver
cortar as amarras
serrar os grilhões
para amar
romper com estradas
não controlar furacões
o pouco que se leva do mundo
é o eco provocado pela vida e pelo amor
em nosso baú de emoções.



quarta-feira, 21 de maio de 2008

Auto-Flagelação


Agora?
Não sei... Parece que sim...
Tudo muito confuso
Me perco em mim
Era para eu ter qualquer resposta
Mas só tenho todas as perguntas...
Ainda seria fácil se eu
Fosse mais fluida - menos densa
Mais volátil - menos bruta
Conseguiria pôr aqui
Tudo que sinto
Mas, não sei se por preguiça
Ou incapacidade mesmo
Não consigo...
E já fui melhor até
Tudo que dói tento expurgar
Pelas palavras
Mas a dor me deixa burra
E o medo me faz fraca...
Perdida, densa e bruta
Burra e fraca
Cada texto meu é uma violência
Que cometo contra mim
No anseio desesperado
De tentar me aliviar.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Disparos Contra a Noite (A Queima Roupa)




Disparo idéias obtusas
Contra a cabeça da noite
Em meu desvairado coração
Não cabe mais tantas dúvidas...
O silêncio dos teus gestos
Recolheu em mim o último grito
De socorro que restava...
Sobrou-me agora a frouxidão
Destas mão cansadas
De tentarem te alcançar...
Sobrou agora o calor bufante
Desta noite
E ele não me livra do frio
Que o vazio de não te encontrar
Me traz...
[E tem um mistério
Um rebuliço de horas
E umas palpitações infartantes...]
A tua falta me desgasta
E me arrasta pela piçarra dos dias,
Me despindo dos sonhos
E da própria pele.
Disparo balas na boca
Desta noite de angústia
E elas soam abafadas
E elas não abrem feridas...
Porque são feitas
Para atingir sem matar
Porque são feitas de saudade...
E saudade não mata ninguém
A queima roupa.