quinta-feira, 5 de julho de 2007

A Necessidade de Acreditar






Meu Deus, me dê a coragem
Clarice Lispector

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

Sobre Alguém Que Não Vem




Sinto na pele o sopro leve e quente que me causa a tua lembrança...
E olho entusiasmada o tempo, o vento que inquieta as cortinas da janela,o solitário e urbano pássaro que, pousado num fio elétrico, parece tão entediado quanto os incógnitos passantes a cruzarem-se no vai-e-vem das ruas. Olho o torvelinho cotidiano formado em meu redor e tudo parece anunciar a tua chegada.
Como não soubesse a que atribuir tão suave e prazerosa ameaça, passo a ensimesmar-me. Assim, como alguém que quer acreditar em algo que não vê, e espera, mordendo os lábios e apertando os olhos, extrair do pensamento uma visão do que não está... Um espectro do que anseia ter em frente aos olhos.

Falo da busca acelerada e constante em mim por um sinal teu.

E essa angústia latejante, que num lusco-fusco clareia e enegrece minhas esperanças, fala já à minha consciência que a muito já se foi o momento de esperar por uma chegada tão irreal. Porque estás longe da maneira mais inextricável possível. Porque em teu coração pulsa, agradável e intimamente, um amor que não é meu.
E o puro amor que te enternece é o mesmo que esmaece as cores brilhantes do meu sonho... Esse que é te ver chegar aqui, eufórico, desmesurado... Com a boca cheia de ternuras e
indecências...

Mas não é meu esse amor.

Ainda que minha tola obstinação implore pelo contrário, a porta da minha casa não receberá nos trincos o impulso dos teus punhos ansiosos. Nem as colchas da minha cama revelarão os doces vestígios do teu cheiro na manhã seguinte...
Porque tudo que há em mim, o desejo, a esperança, a feliz temerosidade, são tudo ilusões.
Como quem mira nostálgico uma dileta estrela, e só porque ela está lá (e é tão linda!), ignora o próprio absurdo... E espera vê-la cair-lhe nas mãos.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

A Descoberta


E foi no exato momento em que te vi:
entendi que minha vida havia definitivamente começado...
O tempo parou por alguns instantes (deve ter sido pra deletar tudo que havia acontecido antes...), e então, parada onde eu estava, comecei a sentir que nada mais seria igual... Meu corpo, minha alma, meu pensamento e minha vida inteira haviam sido tomados por uma loucura colorida, um deslumbre brusco e descontrolado que era provocado pelo brilho sereno do teu olhar.
Eu quis fugir, sim (E por querer tanto eu soube que realmente não queria...). Mas hoje é meu peito que cadencia descompassado de tão contente. E tudo é tão novo, tão belo que mais parece uma doce insanidade.
Não esperei te encontrar, não esperei que fosse tu... Não esperei que existisse quem eu tão subliminarmente esperava.
E por tanta surpresa, e por tanta sorte, é que digo hoje: não me falta mais nada, meu Amor! Que venha o acaso, esse tolo que acha que pode pôr a termo o que não acaba nunca, o que é infinito.
Meu mundo está completo. Meu ser está completo. Tanto que nem sei o que fui antes de tua chegada.
Os dias agora têm o sabor adocicado da tua voz e o vapor róseo da tua presença... E não preciso temer a solidão, a chuva, o desamparo...
Agora estás aqui, e o resto descabe em si, de tão pouco...

Dentro de mim ninguém foi tão imenso...
E jamais serei tão viva quanto sou em ti!

Eternos Instantes


Vago cada instante como se no infinito todos eles se precipitassem... Como se eternamente eu os vivesse e como se por isso mesmo eu não devesse me cansar deles... Vivo agora os momentos frios que me abordam e não me acrescentam quase nada. Antes, sim, houvera em mim uma busca mais forte por emoções mais fortes ainda. Agora não. Agora sobra aqui um marasmo... Um confuso desconsolo. Uma sobra do que não há. E também não sei por que as coisas mudam tão bruscamente dentro de mim. Por que vivo horas alucinantes, e por que as mesmas horas depois de mínimos dígitos de segundo passam a me entediar muito profundamente. Então fico assim... Pasmada, letárgica... Com esse olho q não vê e essa mão desmaiada debaixo do queixo. Assim, como quem espera adormecer estando insone, ou como quem se entrega às resignações de um dia perdido... Eu por enquanto não estou. Eu permaneço. Sôfrega, morrendo de pena de mim, quase, mas permaneço. Permaneço onde estou e sem querer sair. Permaneço sentindo, sem querer combater qualquer espasmo de dor, ou suspiro de impotência. Permaneço incógnita de mim... Mas não posso negar que continuo tranqüila. E não de uma maneira mórbida. Eu transpareço a tranqüilidade dos justos, a tranqüilidade dos sãos e dos que têm paz. Dá então pra sugerir que os instantes que não passam... Eles não destroem nada... Eles apenas machucam... E apesar de infinitos, no final de tudo eles são apenas instantes...
Porque inclusive eu, no fim de tudo, não passo de um instante...

Abismo ou Refúgio


Deixa os olhos teus
Lavarem o que resta
De dor nos cantos meus...
Deixa os olhos teus
Luz dos olhos meus
Luzirem desordenados sobre mim;
Mostra esses olhos claros
Pro meu mundo
E traz a eles um pingo
Um viés de ilusão
Que a beleza existe em tudo, tudo
E que olhos caros como os teus
São o abismo ou refúgio
De quem procura na vida
Um sinal, ainda que pálido
De um amor que se perdeu.

Nada Como Um Amigo


Nada como um amigo verdadeiro... Aquele que surge quando estamos perdidos na névoa escura da desilusão e ao nos estender a mão nos devolve a fé, o ar e o sorriso. Nada como um amigo que compartilha conosco até o silêncio e que consegue desprover de necessidade as colocações. Aquele que nos entende e nos decifra no mais simples mirar de seus olhos.
Nada como um amigo que tem no sorriso aquele som que desopila a mente, aquele soar transparente que nos desafoga a alma, que expulsa toda angústia de nosso peito.
Nada como um amigo que nos abraça no momento do dissabor, aquele que faz do nosso pranto o dele e que enxuga sôfrego nossas lágrimas, tendo na face consternada a expressão de que sinceramente gostaria que aquilo fosse com ele, e não conosco...
Nada como ter um amigo que se sabe ser um abrigo forjado em mão e peito, aonde quer que estejamos. Alguém que nos ama, apesar de nós mesmos.
Nada, lhes digo convicta, nada como um amigo que podemos chamar de “meu melhor”, porque é ele que, naquela bendita hora do conselho, adianta o fluxo das nossas idéias e nos faz sempre encontrar um caminho de fazermos exatamente aquilo que queremos, se é esse o meio de sermos felizes.
Nada como um ser que torce afoito e apaixonado por nossa vitória, e de nós recebe trêmulo uma novidade feliz, como um prêmio, uma condecoração em forma de notícia. E que vai sentir orgulho por nós, mesmo que tenhamos como patrimônio somente o jeito certeiro de fazê-lo sorrir.
Nada como um amigo que queira saber de nossos segredos só para guardá-los como valiosos tesouros que só nós
e ele sabemos onde estão. Que seja capaz de saber da mais escabrosa de nossas verdades e ainda assim seja sincero para se horrorizar até que ele mesmo se convença que não é nada demais, que apesar disso (e de tudo mais) somos pessoas especiais. Nada como alguém capaz de mentir por nós se for o caso, e que nos defenda e que nos prometa que nunca mais vai fazer isso se não tomarmos jeito, mas que sabemos jamais ser capaz de cumprir tal promessa.
Nada como um amigo que chore sofrida e compulsivamente o momento enorme e inesperado da nossa morte (porque os amigos sempre acham que a gente vai sobreviver)... E que depois de extinto o pranto, na hora de um susto ou daquela admiração súbita, lance a nós seu pensamento, e se lamente por não estarmos ao seu lado para fazer render o assunto. E nos leve consigo como presença constante, e saiba que estaremos nele, sim, dissolvidos em seu sangue e resguardados seguros no espaço gigante de seu coração.
Nada como um amigo que por nada ou por qualquer coisa seja leal e esteja conosco... Porque a vida é tão breve... E, nesse desmantelo todo, o amigo real, o nosso irmão dileto, é o companheiro tão desinteressado e sincero, a edificar conosco a obra mais ousada, que é transformar o minúsculo tempo que temos em tempo feliz, tempo leve, tempo que valeu a pena viver e que vai existir... A despeito de se perder em si mesmo.

Tão Tua


Entre sonhos e lembranças,
Aqui estou...
Mesmo em tua ausência
Contento-me com o que restou;
Aquela luz tão linda do começo
Permanece ardendo e brilhando em mim,
Ainda sinto teu cheiro, ouço tua risada,
Mesmo depois do fim...
Respiro ainda o frescor da manhã
Do dia em que te vi,
E ao fechar os olhos, consigo enxergar
A calidez dos teus traços, tão perfeitos...
Ainda desejo teus beijos,
E sinto-me envolvida pelos braços teus...
É por não conseguir-me acostumar
Que sofro tanto...
Eu continuo me sentindo tão tua,
Assim como te sinto tão meu...

Para Uns Olhos


“E porque você é um menino que não pisca nunca, e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação. E você é capaz de ficar me olhando horas.” (Vinícius de Moraes - com adaptações)

E fico olhando pra ti... Pra esses olhos que foram feitos de faíscas do Big Bang, mas que aqui na Terra têm o dom de serenizar tudo que tocam.
Olho pra uns olhos que destituem a paz de dentro de mim. Que me fazem sentir intensamente viva e pulsante.
Olho pra uns olhos que me fazem arder a ponto de sublimar todo o meu corpo.
São uns olhos suaves... Daqueles que sabem fazer vazar parte dos pensamentos por suas órbitas pra nos desvirtuarem de qualquer coisa que possa nos distrair. E são doces, doces... Dois cálices de mel incrustados numa face de anjo. Adornados por esse sorriso de sol rasgando triunfante a madrugada, esse sorriso de lua clara crescente, reinando absoluto no infinito do cosmo.
Tens olhos compenetrados e um tanto tristes, mas meigos. De uma ternura demasiada e constante. Dos que conservam absoluta beleza até no cerrar das pálpebras...
São lindos demais os teus olhos!
E mirá-los, pra mim, que andava meio de lado das utopias da vida, é a redescoberta do mais inesperado sonho: o de poder sonhar sem temer. De poder me lançar do precipício e cair exata nos teus braços, inteira e totalmente entregue. E permitir ao meu coração que ele bata desenfreado o quanto quiser... O sonho de querer alguém a ponto de existir como se não houvesse caminhos pra seguir ou regressar.
A profundidade luminosa do teu olhar é a coisa mais simples e bela que já pude observar em anos. E o tempo inteiro do mundo se reverte em segundos quando a luz da tua íris límpida toca e se faz refletir na superfície da minha pupila maravilhada.
É como se não existisse mais nada ao redor... E continuarei a fitar teus olhos soberanos que brilham imóveis dentro de mim...
E a vida se abre numa imensidão tão infinita quanto esse brilho, quanto esse sentimento cego e louco, que agora me devasta para reconstruir, átomo por átomo, fibra por fibra, sonho por sonho, aquela que sou de verdade.

Tua Presença


Tu estarás...
Em cada laço desfeito
E todo engasgo de despedida...
Em cada luz de olhar minguante
E nas mãos úmidas de ânsia e ternura...

Tu estarás em cada dor infiltrada
E empoçada em meu peito;
E em cada gesto que afague
Em cada músculo que vibre
E em cada lágrima que arde...

Tu estarás, amor meu...
Em toda manhã incandescente de sol
Em todos os dias de nuvens e figuras
E em cada noite de lua a ofuscar a paisagem...

Em cada estrela no côncavo azul do céu
Estará o delicado brilho que tu, com os dedos
Espalhaste nelas cuidadosamente
Apenas para me encantar

Tu estarás em cada canção abandonada no tempo
Como nódoas no passado,
Assim como no silêncio que me comprime a alma
E abstrai os olhos...

Porque a tua presença é muito mais
Do que gestos, momentos, lembranças...
Porque és o que foi e o que sempre será
És o que permanece, o que está...

E o que dissolve, gota por gota
A essência do meu ser
Na angústia desesperada
Por teu eterno e breve abandono.

Inconformismo


Não era pra eu ser assim... Era pra eu ser de vento... Então quando tudo fosse pelos ares, eu ia pro olho do furacão, pra ver como até o caos pode ser bonito do lado de dentro.

Nathalia


Gosto das pessoas. Acho inclusive que elas são a melhor parte do mundo. A melhor e a mais nociva. Me encanta observar, no desenrolar de uma conversa, como cada personalidade (suave ou bruscamente) se revela. Adoro ver que as pessoas que menos se preocupam em "fazer tipo" são as que resguardam em si as mentes mais profundas e brilhantes. E já percebi também que as pessoas que falam menos são as que remoem dentro de si os sentimentos e idéias mais tortuosos e perigosos... Tenho pânico de quem não fala. E eu gosto de falar... E como gosto! E de escrever também. De falar mais do que de escrever. Às vezes acontece de me engatar um ponto de interrogação na garganta, e outro no meio das idéias... Aí paro de falar e de escrever enquanto ele se dissolve. Sempre sou assim, difusa. Inconstante deveras... Mas cautelosa. Porque ninguém tem obrigação de suportar minhas repentinas (embora breves) variações de humor.
Mas sou otimista... Dessas patológicas, mesmo. Abestalhada. Perco tempo nas coisas mais frívolas e cotidianas, observando a beleza de tudo, feito uma imbecil deslumbrada. Pelo menos úlcera sei que não vou ter (né, mãe?). Nem câncer. Nem problemas cardíacos... Opa! Será que eu não poderia ganhar dinheiro com isso?! "Como se livrar de doenças sendo um oligofrênico desvairado". Ia vender horrores.
Fora o incontável número de vezes que me estrepo por ser assim (as pessoas insatisfeitas lutam muito mais), eu gosto da minha maneira de ser. Acho um saco enxergar muito de perto os problemas que eu já sei que existem... Então procuro deixá-los de lado. Resultado: eles ficam no mesmo lugar! Tesos. Duros. E eu termino por constatar que eu fabrico as pedras do meu caminho. Eu não tenho muita obstinação, não. A curto prazo, talvez. E isso é um risco pra quem não pensa em morrer tão cedo. Porque é preciso planejar o futuro. Traçar metas e ser leal a elas, imaginar diretrizes, abrir caminhos. E eu não faço nada disso, infelizmente. Até tento, mas tudo me cansa depois de um curto período de tempo.
A precaução também não é meu forte. Claro que não me atiro aos perigos de andar em ruas desertas altas horas da noite, nem saio com qualquer pessoa que acabe de conhecer. Estou falando de ser precavida nas pequenas coisas. Nessas que as pessoas normais habitualmente são. Não estudo uma semana antes das provas. Não escondo minhas impressões e exclamações e contantes interrogações (para o desespero da minha irmã e terror do meu namorado). Como de tudo, às vezes furiosamente. Durmo às 4, sabendo que terei de levantar ás 6, sem culpa (ou nem durmo).
Sou livre demais, essa é a verdade. E digo isso sem um pingo de orgulho. As vantagens de ser assim existem (tem vantagem pra tudo nesse mundo ), mas eu acho que esse é só mais um problema que transformo em pedra.
Aí você se pergunta porque que eu não mudo. Porque eu não procuro ser uma pessoa mais normal e centrada (afinal, não pode ser tão difícil assim!). E eu vou te responder que não mudo porque a maneira mais rápida de deixar de ser tão, digamos, bagunçada é (isso mesmo) sendo exatamente do jeitinho que sou. Essa é a maior vantagem de ser uma pessoa que não agüenta ser a mesma todos os dias.

Que se Ganhe em se Perder


Odeio as escolhas. Não acredito nessa história de "só me arrepender do que não faço". Porque toda vez que meu massacrado juízo opta por uma coisa, ele imediatamente desfaz-se de outra, tão querida quanto. Ou seja... a gente sempre conserva alguma coisa pra se arrepender. Horrível essa ditadura da escolha, a atrapalhar a realização das nossas mais diversas possibilidades...

Aonde Vai Dar (O Teu Olhar)


Pra onde vai esse teu olhar rasgado,
Esse olhar parado,
Metido nesse vazio infinito...

Aonde vai dar esse olhar tão bonito,
Que mil vezes me tenta,
Mil vezes me mata,
E que pousa de leve, como suave pluma,
Dentro do mais profundo silêncio
De uma sinfonia de emoções...

Que se perde na imensidão dos teus porquês,
Só se encontrando talvez
Quando encontra algo mais preciso,
Quando esbarras no paraíso
Da luz dos olhos meus...

A Brisa


Deixa-me esgotar no teu corpo o peso dessa angústia que me esmaga por dentro. Eu preciso voar... Deita aqui, com esse teu corpo iluminado e de veludo, e me cobre como cobre a águia o seu ninho. E toca, calmamente, cuidadosamente, com tuas mãos firmes, todos os meus recôncavos. Conquista todos os territórios da pequena e pacata planície do meu corpo. Vem cá... Traz pra mim esse beijo alucinógeno que me alimenta a loucura de estar somente ao teu dispor. E pousa esses olhos de anjo caído em cima de mim, com toda piedosa malícia, despindo minha pele e vasculhando minha alma. Enternece meus dias com teu sorriso de menino, e acaricia meus ouvidos com o som mágico da tua gargalhada livre e clara. Faz-me chorar, amor! Deixa que minhas lágrimas lavem teu corpo... Eu quero, aos prantos, transbordar a alegria de te acolher em meus braços. Eu quero, eu preciso persistir dentro de ti, forte e serena... E inundar para sempre tua boca com as sílabas do meu nome. Ah, meu príncipe lindo... Eu quero teu coração atropelado, descompassado e tonto, de tanto me amar! Vem, amor, como um pássaro exausto e voltejante... E repousa em mim o teu cansaço. Vem, pra saber que sou eu a tua terra, sou eu a tua casa... E vem, pra saber que quantas vezes quiseres, e para onde fores, eu serei a brisa fresca e constante que acompanhará o teu vôo.

Deixo-me Por Ti


Eu deixo que teu canto me cale e encha de voz meu coração. E quero que todas as palavras dos teus olhos me ensinem que o sentido das coisas pode ser maior quando a gente se perde de tanto amar. Eu deixo que a leveza das tuas mãos me revelem os caminhos que podem me levar tão profundamente como jamais pude ir no interior de mim mesma. E me permito ser vista por ti, em toda minha essência e fragilidade... Pra que me sintas inteira e só possas me querer desta forma. E me deixo sentir o máximo de tudo que pode agüentar meu peito. E encho meus ouvidos do som da tua voz, deixando-a ecoar... Semeando minha mente e invadindo minha razão pela tua, para que sejas em mim tanto quanto eu mesma sou. E me deixo ir além, e querer-te assim, visceralmente, como o pássaro deseja a imensidão do céu, ou a Lua que não pode brilhar sem a luz do Sol. Não sou sem ti senão apenas a sombra de mim mesma, e em meu gesto está o teu, assim como a pele que me veste e o ar que me mantém viva. Eu me calo para que ressones... E entrego a luz dos meus olhos a ti para que te mantenhas aquecido... E sigo ao teu lado, "como encantada", feliz e serena... Porque sou pequena demais, meu amor, quando não estou em teus braços.