sábado, 31 de outubro de 2009

Coisas estranhas ao seu lado

Ilustração: Ionit Zilberman.


Eu sinto coisas estranhas por você. Nunca senti igual por ninguém, e por isso mesmo chamo de coisas estranhas.
Eu não te amo, definitivamente. Não imagino nossos sobrenomes misturados, filhos com você, nem qualquer vida possível ao seu lado. Nada disso. Não me interessa detalhes sua história, nem conhecer mais profundamente as pessoas que você é.
Mas você me dá coisas estranhas. Tipo vontades insanas, tipo correr perigo, fazer bobagem sabe? Você me causa esses troços todos. E me dá vontade de chorar quando simplesmente some, e de gritar quando, do nada, aparece. Eu não entendo.
Queria poder dizer claramente o que sinto e me libertar dessa mania infeliz que eu tenho de ser sempre tão comedida, e compassada, e cautelosa. Eu queria dizer assim, na tua cara, num desses momentos que a gente tivesse de bobeira, que você me desestrutura, rapaz.
É que toda vez depois de te ver eu fico rebobinando (porque eu sou do tempo das bobinas do vídeo-cassete) cada expressão, cada sorriso fácil seus, pra reviver aquilo que eu vivi ao seu lado, mas não estou afim de viver outra vez.
Sinto uma saudade fodida de você, mas não quero te ver nunca mais.
Porque do seu lado eu não sei quem sou. É isso. Eu queria dizer na tua cara, seu alienígena, que eu não quero mais saber de você, porque eu não consigo me reconhecer do seu lado, você me olha e eu me transformo numa criatura que nunca conheci antes, cheia de uma fragilidade irritante, como se você me quebrasse em pedacinhos e me juntasse com as partes todas fora do lugar e eu não soubesse o que fazer com elas.
E eu tenho medo de você e de tudo isso que ficar sob seu eixo me causa.
Nunca fui de me assustar com o que desconheço.
Mentira. Mentira deslavada, lorota boa essa minha. Eu sou mulher e trago o medo na bagagem do meu gênero, mas medo assim ainda não tinha sentido.
Não estou falando de medo terror não, é uma coisa muito mais sutil, como se fosse uma forma refinada de medo que, injetada na minha corrente sanguínea, me deixasse sempre num estado entre o surto e a tranquilidade. Constantemente em alerta, eu diria.
É que, eu não sei porque, mas com você eu sinto uma vontade incontrolável de viver tudo até o limite, do seu lado eu me sinto plenamente fora do juízo, fissurada nos segundos presentes, liberta dos acontecimentos ao redor.
E mais do que qualquer das outras, a coisa mais estranha que sinto é me satisfazer das lembranças de você... Só por não suportar o peso da felicidade quando estou ao seu lado.

2 comentários:

A. Ferro disse...

Gostei do novo "leiaout" bem meiguinho e com a cara da Liz :) Um beijo

Tha` disse...

Termos perfeitos em meio a um universo imperfeito e cheio de complicações: o amor. Se fosse sempre bom, que graça teria? Se fosse só agonia, pra que existir? Esse misto é que faz do amor, O AMOR!
Beijos gata!