segunda-feira, 4 de outubro de 2010

CARTA AOS ARTISTAS

O artista jamais pode deixar calar em seu peito a voz dos excluídos. Jamais.
Não pode deixar calar a voz dos que tem fome de comida e justiça, a voz de todos os livros não lidos pelas crianças sem escola, e pelos adultos iletrados.
Porque o peito do artista pulsa levando consigo o eco das multidões.  E é preciso que ele tenha sempre os sentidos atentos a estes clamores, que não os deixe de mão, por serem repetitivos e doloridos demais.
Sabe-se que os tempos são de acomodação, preguiça e desesperança. Sabe-se que hoje em dia as pessoas tem tanto medo de perderem suas situações arranjadas, como antes tinham de serem torturadas pela ditadura.
Mas é preciso que se diga: um povo ignorante, com viseiras nos olhos e adestrado economicamente por medidas assistencialistas não tem capacidade de consumir arte crítica e de qualidade.
Façamos então por nós mesmos, nós, artistas. Nós, que valorizamos nossas mentes e almas, que temos nossa expressão como riqueza maior. Ouçamos em nosso peito também a nossa própria voz que clama por atitude, posicionamento, coragem e esclarecimento, pois faz parte de nossa função, para que sejamos ouvidos e lembrados, posteriormente.
Foi-nos dada uma dádiva, que é a de falar às gentes. Fomos contemplados pela capacidade de amar, sentir e tocar muitas pessoas de uma só vez. Usemos este dom, portanto, em prol de nossa mensagem, e façamos com que esta haja em benefício daqueles cuja voz grita em nossos corações, por dignidade e oportunidade.
Não aceitemos que pessoas sejam enganadas, subestimadas, esquecidas. Nem que sejam caladas, abandonadas ou preteridas. Não deixemos que isto aconteça, pelo bem de nossa consciência, pois o artista sem consciência é como lâmpada sem luz.
Sejamos, portanto o veículo, o amplificador destas vozes abafadas, a luz destes olhos turvos, o consolo destas barrigas vazias, o exemplo da mudança que almejamos. Pois o artista é também uma instituição de seu país.
 É o povo o doador maior de toda inspiração, voz, luz e sentido às nossas almas, e é ele também nosso provedor, que torna nossa sobrevivência e sonhos possíveis. Portanto, o artista que não toma como parte de seu trabalho o serviço em benefício das pessoas, não é adequado para nenhum palco e é indigno perante qualquer platéia.
Reflitamos, e tenhamos orgulho deste valoroso ofício. Pois somos os únicos soldados que lutam usando o coração como arma, e a beleza como munição.  

Nathalia Ferro.

2 comentários:

Tássia Campos disse...

A luta pela alma e beleza embora muitas vezes solitária, ainda vale a pena. "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena"...

Marília disse...

Me arrepiei... mandaste muito bem Mana.

Glorioso...

Beijo