quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

A Fábula da Estrela


A menina, ao encontrar com uma estrela no céu:

- Que linda és! E tens tanta pressa! Para onde vais?!
- A lugar algum, só estou partindo...
- Ora, mas nunca vi. Estrela partindo? Estrelas ficam sempre no mesmo lugar! Pois diz-me então, aonde vais, agora que estás partindo?
- A lugar algum, já te disse. Procura pôr teus pés de volta no chão, e deixa-me!
- Ah, mas sonhar é bom! Tu, que tens um lindo lar, bem que podias fazer como eu, e viver a sonhar! Olha, é mais fácil que ter de se acostumar à dores medonhas de ter os pés no chão... E é tão simples... Não acredito que possa haver coisa melhor que isto. Mas diz-me. Já que não queres dizer para onde vais, onde estavas antes de partir?
- Menina, tu és ingênua ainda. Teu lar é tão lindo quanto julgas o meu... E é bom sonhar, eu sei bem... Fiz isso por milhões de anos, e levava também as pessoas a fazerem o mesmo quando me notavam daquele pontinho azul de onde viestes, e que chamas de Terra. Mas é preciso que desças para te acostumares a sonhar apenas para alegrar a vida, porque é na realidade que de fato vais construí-la e aproveitá-la.Os sonhos são bons, mas nos levam tão alto... E é tão perigoso, meu bem...
Antes de partir eu estava no lugar onde nasci e brilhei até alguns dias atrás... É isso...

- Besteira. Realidade cansa. E como dissestes, sou nova ainda. Tenho tempo de sobra para sonhar, e não preciso correr para construir nada, e fazer forças e tudo mais que não é melhor que o doce vôo do sonho. Quanto mais alto, mais livre me sinto! Não é maravilhoso?!
Mas não entendo o que te fez sair do lugar onde moravas! Não eras feliz? Que te faltava?

- É maravilhoso, mas é perigoso quando é demais, assim como fazes. E eu era feliz, sim. Só achava tudo muito distante. Mas não me importava, pois era admirada e isso sempre me bastou. Saí porque era a hora. Cumpri minha missão que era brilhar e brilhar e brilhar.

- Ah! Pois é a vida que sempre quis! Brilhar sem me preocupar com mais nada nem ninguém, e ser admirada sempre! Acho que minha missão é como a tua! É ser estrela a minha missão!

- Tua missão é ser menina. E depois jovem. E depois uma bela mulher. Mas tens de conviver entre os teus, tal qual fiz aqui entre minhas irmãs que são estrelas também. É por isso que deves cuidar de descer e fazer florescer tua vida. E não queira saber o quão obscura pode ser a vida de uma estrela...

- Muito obscura ... Não entendo... Mas as estrelas são tão claras! Ah! Então partistes porque não queres mais ser estrela! É isso!

- Ai, não me escutas. Parti porque chegou a hora de fazê-lo.

- És confusa estrelinha, não te entendo não. E é uma pressa tanta... E me dizes tantas coisas... E olha! Teu brilho está se apagando...

- Não sou confusa querida. É que teus olhos sonhadores não te permitem ver uma gota de realidade. Já que não ouviste uma palavra do que eu te disse, contemplas agora o que acontecerá contigo se não colocares os pés no chão. Se digo que não vou a lugar algum é porque minha missão está chegando ao fim. Viste que meu brilho está se apagando, e te admirastes antes porque sabias que estrelas não partem de seus lugares. Pois bem, realmente não parti. Estou caindo. E o ruim de ser estrela é que, depois de tanto brilho, nos acabamos sempre numa dura queda. Bem do alto me espatifarei nalgum lugar que desconheço. Continua onde estás e assistirás tudo.
Mas se é este o destino que queres, então voa... E não temas o quão violenta será a tua queda.


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