quinta-feira, 5 de julho de 2007

Sobre Alguém Que Não Vem




Sinto na pele o sopro leve e quente que me causa a tua lembrança...
E olho entusiasmada o tempo, o vento que inquieta as cortinas da janela,o solitário e urbano pássaro que, pousado num fio elétrico, parece tão entediado quanto os incógnitos passantes a cruzarem-se no vai-e-vem das ruas. Olho o torvelinho cotidiano formado em meu redor e tudo parece anunciar a tua chegada.
Como não soubesse a que atribuir tão suave e prazerosa ameaça, passo a ensimesmar-me. Assim, como alguém que quer acreditar em algo que não vê, e espera, mordendo os lábios e apertando os olhos, extrair do pensamento uma visão do que não está... Um espectro do que anseia ter em frente aos olhos.

Falo da busca acelerada e constante em mim por um sinal teu.

E essa angústia latejante, que num lusco-fusco clareia e enegrece minhas esperanças, fala já à minha consciência que a muito já se foi o momento de esperar por uma chegada tão irreal. Porque estás longe da maneira mais inextricável possível. Porque em teu coração pulsa, agradável e intimamente, um amor que não é meu.
E o puro amor que te enternece é o mesmo que esmaece as cores brilhantes do meu sonho... Esse que é te ver chegar aqui, eufórico, desmesurado... Com a boca cheia de ternuras e
indecências...

Mas não é meu esse amor.

Ainda que minha tola obstinação implore pelo contrário, a porta da minha casa não receberá nos trincos o impulso dos teus punhos ansiosos. Nem as colchas da minha cama revelarão os doces vestígios do teu cheiro na manhã seguinte...
Porque tudo que há em mim, o desejo, a esperança, a feliz temerosidade, são tudo ilusões.
Como quem mira nostálgico uma dileta estrela, e só porque ela está lá (e é tão linda!), ignora o próprio absurdo... E espera vê-la cair-lhe nas mãos.

Nenhum comentário: